Custo Oportunidade de uma Piada
Exame Anpec

Custo Oportunidade de uma Piada


Há uma piada de português que eu gostava muito quando era pequeno (nada contra os amigos portugueses). Vou contá-la aqui, pois é ilustrativa:

Joaquim, português, esperava o ônibus-lotação um pouco distante de seu ponto. Quando viu que o seu ônibus ia passando começou a dar sinal, mas o ônibus não parou ...

Joaquim, correu atrás e insistiu:

- Ei, Ei, raios! Volta aqui, preciso pegaire esse autocarros!


O incansável português continuou a perseguir o ônibus:

- Ei, estou ficando cansado, diabos!

Perseguiu tanto que quando se deu conta já estava à porta de casa. Joaquim entrou feliz da vida e foi logo se dirigindo a sua mulher, Maria:

- Maria, tu não sabes o que acaba de me ocorreire!

- Quê, ó Joaquim.

- Corri atrás de um autocarros até chegaire em casa, economizei os R$ 2,10 da passagem!

Com sarcasmo Maria retruca:

- És mesmo um estúpido , Joaquim, se tu correstes atrás de um taxi, economizarias bem mais!

Hahaha. Eu ria como criança dessa piada. Depois de crescido, analisando já como um economista, a lógica usada nesse chiste é econômica e curiosa, ela usa um dos melhores conceitos econômicos: o custo oportunidade.

A brincadeira é que Joaquim economizou R$2,30, mas se fosse inteligente o bastante ele economizaria uns R$ 15, 00 a 30,00 (dependendo da distância) :)

É um pequeno dilema econômico não é verdade?! Se pensarmos desse modo estamos sempre economizando algo. Ao ir à pé pra casa economizamos os 2,30 da passagem, ao pegar um ônibus economizamos pelo menos uns 12,70 da diferença do ônibus e taxi (ou qualquer valor que seja).

Bom, quando menino eu já resolvia esse dilema: ninguém leva a pé e correndo o mesmo tempo que levaria se estivesse dentro de um ônibus. Parte-se então de que a piada fez um pressuposto irrealista, Joaquim conseguiu acompanhar o ônibus desde o ponto até a sua casa. Bom, se fosse assim (se Joaquim fosse tão rápido na corrida), realmente quase nunca compensaria ele pegar o ônibus, pois de graça ele já consegue chegar em casa quase ao mesmo tempo, talvez só bem mais cansado. Pegar o ônibus para ele teria o preço de se evitar a fadiga como diria o Jaiminho, o carteiro do Chaves (aquele da TV, não o da Venezuela).

Quando vamos de ônibus ao invés de ir a pé é porque escolhemos chegar mais rápido em casa, e também a comodidade de ir sentado lendo ou olhando a paisagem (se o ônibus estiver vazio). Se fossêmos de Taxi chegariamos mais rápido ainda com o conforto de sermos só passageiro e motorista no veículo. E com mais conforto, já que o taxi pode te deixar realmente na porta. O preço da diferença Taxi-ônibus vale esse conforto? E quando não há opção? Vale apena pagar um taxi? Taxi é considerado caro pelos consumidores porque explora um pouco nossa condição de consumidores inelásticos quando não podemos escolher ir à pé, de ônibus ou em carro próprio. Bem verdade que são também caros por restrição de oferta por parte das prefeituras e cooperativas de taxistas e também pela falta de hábito, em Brasília todo mundo tem carro e Taxi é um absurdo, em Recife taxi é um dos mais baratos das capitais do país.

Bom, argumentar pelo irrealismo já resolve muita coisa, mas ainda não é o suficiente para o economista: Vamos então eliminar o efeito tempo, suponhamos que Joaquim correndo seja mesmo tão rápido quanto o ônibus. Ainda assim, porque ele não economiza o dinheiro do Taxi?
Se fossemos fazer a conta de quanto vale essa habilidade Forrest Gump de Joaquim, qual seria o preço disso?

Bom, podemos extender o raciocínio custo oportunidade para algo que é pouco ressaltado: O custo oportunidade não vale para todas as maneiras alternativas imagináveis, pois se assim fosse alguns custos de oportunidade seriam contas sem fim onde o indivíduo passaria o tempo inteiro fazendo contas e não chegaria a decisão nenhuma. Podemos ater a um sentido prático do custo oportunidade válido apenas para alternativas factíveis. Bom, poderia ser que Joaquim no dia que estivesse correndo atrás do ônibus só tivesse em seu bolso os R$2,30, portanto, as duas únicas alternativas que lhe eram viáveis era ou ir à pé ou pegar o ônibus, o taxi não era alternativa, pois ele nem tinha essa grana em sua carteira!

Sendo assim, o inteligente dessa história é mesmo o Joaquim, Maria é uma tonta que nem sabe mesmo considerar o custo de oportinidade relevante para seu marido.



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