A questão ambiental deve estar também dentro do compromisso ético dos economistas. O vídeo abaixo "A História das Coisas" aproveita uma versão simplificada de um sistema exploração, produção e descarte.
O vídeo simplifica bem algumas questões, mas é bastante relevante e deve ser considerado por todos nós preocupados com o uso consciente dos recursos. De primeira mão, a apresentadora e pesquisadora Annie Leonard usa alguns conceitos importantes, um deles o de externalidades. No momento em que menciona um rádio que custa US$ 4,99 se pergunta: "Como U$ 4,99 podem refletir o custo da produção e transporte desse radio até ele chegar em minhas mãos?"
O preço do rádio é assustadoramente barato. Existe uma parte do argumento da autora que está impreciso e a outra parte é correta. A parte imprecisa é que a apresentadora chega a conclusão que o preço de 4,99 não paga nem o custo do rádio estar exposto na prateleira. Bom, tecnicamente, um único produto não precisa fazer isso, porque supermercados trabalham com elasticidades cruzadas. Saindo do economês, o radinho de pilha que você compra barato em promoção é um chamariz para comprar outros produtos que compensam o fato daquele radinho estar lá, a pilha pode ser um deles.
A parte correta: a produção do radinho de pilha de fato deixa de pagar muitos custos de produção não contabilizados, as externalidades dos custos. Externalidades são custos não apropriados (e não pagos) por ninguém, mas que cobram o preço ambiental em termos de qualidade de vida das pessoas envolvidas na produção, assim como aquelas não diretamente envolvidas. Suponhamos que o rádio foi transportado por um caminhão que joga muita fumaça fora. Essa poluição não foi contabilizada por ninguém. Na verdade, há uma série de outras externalidades até mais importantes que essa. A apresentadora parece incluir "o trabalho das crianças do Congo" como uma dessas externalidades, mas não creio que essa possa ser considerada stricto senso como uma. Há, no entanto, a questão moral para melhorar esse quadro em que crianças e adolescentes trabalham. A competição por oferta de trabalho em melhores condições deve ser orientada, ou seja, a exploração do trabalho se combate com direitos trabalhistas e mais desenvolvimento econômico e material. É possível requisitar também uma abordagem ética do lado empresarial.
Outro ponto econômico importante do vídeo: a seta dourada do consumo. Alguns economistas realmente parecem viver em função daquela seta, mas nem todos pensam assim. Eu diria que o Keynesianismo de uns 20 anos atrás, que para manter a economia girando, estimulava o consumo a qualquer preço, cobra nos dias de hoje o seu preço, uma sociedade atulhada de bens de consumo descartáveis. O consumo deve ser sim eficiente, e o consumo pelo consumo, para estimular os ânimos das pessoas, tal como pregava a economia keynesiana mais ortodoxa, só adia os problemas devido ao uso ineficiente de recursos.
O vídeo usa um exemplo de uma decisão equivocada do governo Bush ao incentivar as compras pós 11 de Setembro. O governo Obama, ao salvar a GM, continua tomando as mesmas medidas Keynesianas e equivocadas. Por que salvar a produção (e o consumo) de carros não eficientes e não friendly ao meio ambiente? Aliás, é isso o que fazem os governos pelo mundo afora, é isso o que se fez no Brasil com a redução do IPI. Nesse ponto estou de pleno acordo com o vídeo de que os governos passaram a engraxar os sapatos das grandes coorporações.
A questão dos resíduos: a estatística de que apenas 1% do que é produzido não é consumido em menos de seis meses me pareceu surreal. Como economista sei das gigantescas dificuldades em se fazer essa conta. Mas não sei como essa conta em particular foi feita. Não me impressiona que a maior parte do consumo se exaure em menos de seis meses. Em primeiro lugar, uma economia de serviços, por definição, é uma economia onde não se consegue contabilizar isso. O serviço é um consumo imediato. Outros produtos, agrícolas e demais perecíveis, que compõem uma parcela expressiva do produto de muitos países também se exaure rapidamente. Enfim, aquele porcentual referido só seria muito maior caso tivessemos uma economia com parcela expressiva de bens duráveis. No entanto, sei que ainda assim a conta seria muito difícil, pois uma boa parcela de bens duráveis é na verdade contabilizada como consumo. Ou seja, se "você" consumidor compra um computador novinho, não importa se você cuida bem dele e consegue ele fazer durar 6 anos, ou se você é desleixado usuário e o destrói em menos de 6 meses, para as contas nacionais aquele computador "some" (é consumido) a partir do momento em que sai da loja.
Ao cabo, apesar de não concordar com tudo, achei o vídeo extremamente relevante. Não tenho o que dizer sobre a questão das toxinas, isso ultrapassa o meu conhecimento, mas sei também que ambientalistas costumam a ser alarmistas nesses pontos. Para concluir, pontuo que a questão ética-ambiental é extremamente importante e tenho a percepção de que os economistas podem ajudar muito na economicidade dos processos e nas contabilidades corretas das externalidades envolvidas na produção e no desgaste do meio ambiente.
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